O concelho de Santa Marta de Penaguião, “Terras de Penaguião”, foi um dos primeiros a pertencer à primeira demarcação pombalina, decretada por alvará régio de 1756, para os bons vinhos de Feitoria. Dois séculos depois, um grupo de viticultores inconformados com a realidade da viticultura regional, e porque acreditavam que o cooperativismo seria a melhor forma de promover o principal produto das suas atividades – o Vinho, fundam, em 1959, a Adega Cooperativa de Santa Marta. Por trás da sua criação está um importante objetivo: ajudar os agricultores da região a produzir e vender vinho, ao mesmo tempo que conseguiam manter as vinhas da região demarcada bem cuidadas, dignificar o território e aumentar os rendimentos dos seus agricultores.
Em 1960, são criadas no concelho as adegas cooperativas da Cumieira e Medrões. Na década de setenta as três adegas juntam-se comercialmente para se fundirem definitivamente em 1987, dando origem à conhecida Caves Santa Marta. Estavam assim reunidas as condições para que esta empresa pudesse crescer e atingir um alto nível na qualidade dos seus vinhos.
Nesta cooperativa, tal como em todas as outras, os membros da cooperativa são proprietários de vinhas, que entregam as uvas à cooperativa, que produz vinho e comercializa o produto. As Caves Santa Marta são propriedade dos seus membros (cerca de 12 centenas) que, em conjunto, ajudam a dignificar a marca da cooperativa.
Em 1998, a empresa vinícola Caves Santa Marta, foi a primeira cooperativa a conseguir um vintage, o Porto Vintage 1998, tendo repetido em 1999, 2000, 2002 e 2004. Em 2001 foi considerada a Melhor Adega Cooperativa do Ano.
Em 2022, esta Instituição Cooperativa produziu cerca de 6 milhões de litros, dos quais 1,6 milhões corresponde a Vinho do Porto, esta conta ainda com 1100 cooperantes e exporta para vinte e cinco países de quatro continentes.
A sua área de produção configura-se ao concelho de Santa Marta de Penaguião, na encosta nascente da Serra do Marão, com o Rio Corgo a seus pés e o Rio Douro à vista. Trata-se de um terreno xistoso e barrento, apresentando o terroir ideal para produtos de elevada qualidade, possibilitando a retenção da água e conservando o calor. Aqui todas as parcelas de terreno são aproveitadas para a plantação de vinha, contribuindo para uma paisagem única e para o aumento do valor acrescentado da região.
Para além da vinificação das uvas próprias e dos seus cooperantes, presta também este serviço a outras empresas.
Adjacente à adega conta com 1,8ha de vinha e será a próxima aposta na história desta cooperativa: criar um vinho de quinta de gama alta – Quinta da Casa Pequena.
Apostando no Enoturismo, a Caves Santa Marta, nos primeiros anos deste século, promoveu a implementação de um programa turístico baseado na história e tradição do Douro, ligando-o à arte. Atualmente a sua oferta turística consiste em vários espaços históricos para a vitivinicultura do Douro, completamente recuperados, e preparados para visitação, de que se destaca um espaço museológico na antiga destilaria, onde ainda figuram os 3 imponentes alambiques, e o Armazém 0022.
No antigo Armazém 0022, que pertenceu à Casa do Douro, podem ser visitadas as cerca de 70 cubas vidradas, algumas pintadas por artistas que já expuseram no museu. Estas colaborações culminam com lançamento de edições especiais dos vinhos Caves Santa Marta, em cujos rótulos figuram as obras de arte.
Os projetos de futuro da Caves Santa Marta passam pela continua aposta na excelência e qualidade dos seus produtos, diversificação da gama e sua promoção internacional, bem como na aposta no enoturismo e a forma como a arte pode contribuir para a sua sublimação.
SÓCIOS FUNDADORES
ADEGA COOPERATIVA DE SANTA MARTA DE PENAGUIÃO
15 de Janeiro de 1959
ADEGA COOPERATIVA DA CUMIERA
23 de Junho 1960
ADEGA COOPERATIVA DE MEDRÕES
5 de dezembro de 1960
PERSONALIDADES
A título de homenagem e para não deixar cair no esquecimento público, as Caves Santa Marta apresentam um pequeno resumo da vida e da obra de algumas personalidades que contribuíram de forma decisiva para a fundação e o engrandecimento da nossa associação. Estamos certos que o carácter marcante destas personalidade de referência, nos podem trazer grandes ensinamentos e estímulos para as nossas vidas como cooperativistas e cidadãos.
AMÂNDIO DE FIGUEIREDO
FUNDADOR DA ADEGA COOPERATIVA DA CUMIEIRA
Amândio Rebelo de Figueiredo nasceu a 4 de Julho de 19 03, na freguesia da Cumieira, filho de Manuel Tomaz Lopes de Figueiredo e de Julieta Augusta Rebelo de Matos Figueiredo, e faleceu no mês de Setembro de 1980, na Casa de Saúde da Trindade, no Porto.
Estudou no Liceu Camilo Castelo Branco, em Vila Real, e na Universidade de Medicina do Porto, onde concluiu o curso em 1929.
Casou com Elvira de Sousa de quem teve dois filhos: Amândio e Maria Isabel. Enviuvou prematuramente e contraiu novamente matrimónio com Beatriz Barria Maio.
Para além da sua actividade de médico em várias freguesias dos concelho de Santa Marta de Penaguião e do Peso da Régua, exerceu ainda numerosos e variados cargos, entre os quais se destacam:
Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade do Porto; Médico de Bordo no paquete português “Luanda”; Presidente da União Nacional, no distrito de Vila Real; Deputado Parlamentar pela União Nacional, em duas legislaturas; Sub-Delegado de Saúde de Santa Marta de Penaguião; Membro do Conselho de Direcção da Casa do Douro em 1951; Vice-Presidente da Direcção da Casa do Douro, de 1952 a 1972; Fundador da Adega Cooperativa da Cumieira, em 1963; Presidente da Adega Cooperativa da Cumieira; Primeiro Presidente da União das Adegas Cooperativas do Douro.
Homem de cultura e de discurso arrebatador, médico, profissional competente, ficou conhecido na região como o “ Médico do Povo” porque nunca levava dinheiro pelas consultas. Chegava mesmo a dar dinheiro e medicamentos aos doentes mais desfavorecidos da vida, tendo sempre uma atenção especial para com os mais fracos e desprotegidos.
FRANCISCO DOLORES
O ORGULHO COOPERATIVO
Francisco Dolores de Oliveira, filho de Augusto Dolores e de Branca de Oliveira, nasceu em S. Miguel de Lobrigos, concelho de Santa Marta de Penaguião, em 1925. Faleceu em 1988. Pertence ao número daqueles portugueses que fizeram do trabalho o brasão da sua vida. Preocupado, desde jovem viticultor em valorizar-se e valorizar as Terras de Penaguião, dedicou-se de alma e coração aos problemas da viticultura cujas questões sempre se esforçou por estudar e divulgar pelos “homens bons do seu concelho”. Dotado de um caudal de conhecimentos sobre a problemática associativa, mereceu ser democraticamente eleito para vários organismos ligados à lavoura duriense, e de que foi pioneiro, nas décadas de sessenta e setenta, nomeadamente para a União das Adegas Cooperativas da Região do Douro, Caixas de Crédito Agrícola de Santa Marta de Penaguião e Conselho Regional Agrário. Na sua franqueza de trasmontano e atento aos problemas que a todos diziam respeito, mas que poucos sabiam teorizar os problemas da vitivinicultura, bateu-se sobremaneira pelo movimento cooperativo, ao qual aderiu “por convicção e não por necessidade”, como ele gostava de repetir. Graças a esta paixão, deve-se a ele os alicerces da Adega Cooperativa de Santa Marta de Penaguião, a menina dos seus olhos, da qual foi Presidente da Direcção durante mandatos sucessivos. A sua última “bandeira” foi a da fusão das três Adegas Cooperativas do Concelho (Santa Marta, Medrões e Cumieira) que fez da Adega Cooperativa de Santa Marta a maior adega cooperativa da região demarcada, e um dos maiores empórios vinícolas do País.
(in II Volume do Dicionário dos mais Ilustres Trasmontanos e Alto Durienses – Barroso da Fonte)
PLÁCIDO BETTENCOURT
O PRIMEIRO PRESIDENTE
Plácido Bettencourt Fortes, mais conhecido por Plácido Bettencourt, nasceu a 5 de Outubro de 19 04 em Santo Antão – Cabo Verde, e faleceu em Lisboa, no ano de 2004. Muito cedo foi viver para a ilha de S. Vicente, onde fez a instrução primária e o antigo liceu como trabalhador estudante.
Com pouco mais de vinte anos de idade e cheio de esperança, veio para Portugal Continental, exercendo a actividade docente no Colégio da Boavista, na cidade do Porto. Para além de professor, como complemento financeiro, nas suas horas vagas, deu explicações a muitos jovens da cidade Invicta.
Nesse tempo de instabilidade política, num gesto de coragem e determinação, matriculou-se no antigo Instituto Superior de Engenharia, para tirar a licenciatura em Engenharia Técnica de Minas, sem nunca no entanto desistir de leccionar e dar explicações.
No inicio da sua actividade profissional, o jovem engenheiro fez um estágio nas minas de carvão, conseguindo o primeiro emprego nas minas de volfrâmio do Vale das Gatas em Sabrosa, pertencentes à Companhia Mineira do Norte de Portugal, que na altura era explorada por alemães. Esta companhia mineira foi uma das maiores companhias de Portugal, de exploração e exportação de volfrâmio para diferentes países, nomeadamente para a Alemanha.
Em plena 2ª Guerra Mundial, por volta do ano de 1940, Plácido Bettencourt radicou-se em Vale das Gatas, onde exerceu as funções de Director Técnico, na Companhia Mineira do Norte de Portugal, até atingir a idade de reforma.
No ano de 1942, conheceu num baile de Carnaval, em Vila Real, aquela que viria a ser a sua mulher para toda a vida, a menina Ana Hipólito Botelho Ponce de Leão, natural da Cumieira e proprietária da Quinta do Covêlo, ainda hoje existente e pertença da família. Deste enlace matrimonial, Plácido Bettencourt teve 4 filhos, Ana Plácido, António Manuel, Hipólito António e Antónia Maria, todos eles uns apaixonados pelo Douro. É então que Plácido Bettencourt inicia, paralelamente com a sua actividade profissional de engenheiro de minas, o seu percurso apaixonado pelo Douro, cujos testemunhos são ainda hoje fáceis de encontrar naqueles que tiveram a sorte e o privilégio de o conhecer.
Nos anos 50 foi um dos primeiros entusiastas do início do movimento cooperativo do Douro, nomeadamente a construção da Adega Cooperativa de Santa Marta de Penaguião de que foi Sócio Fundador e o Primeiro Presidente da Direcção, cargo que exerceu de 24 de Março de 19 59 a 31 de Março de 19 65. Foi igualmente Presidente da Mesa da Assembleia Geral de 1965 a 1970 e Presidente do Concelho Fiscal de 1981 a 1984.
Como Homem, Plácido Bettencourt teve um comportamento cívico exemplar, aliado a características excepcionais de dignidade e lealdade, de inteligência e independência ao poder instalado. Também sabia ser incómodo quando era necessário. No trabalho era apaixonado, empreendedor, exigindo competência e rigor aos que com ele privavam ou trabalhavam.
Não era “filho da terra”, mas falava dela com paixão e um orgulho absolutamente invulgar para quem não nasceu nesta região, agora considerada Património da Humanidade. Era um deslumbramento ouvi-lo falar dos seus vinhos, em particular do “vinho fino”. Tornou-se num homem distinto, admirado e respeitado em todo o Concelho de Santa Marta de Penaguião. Dedicou-se de alma e coração à Região Demarcada do Douro, como fazia com tudo o que acreditava. Foi a Cabo Verde somente uma vez, nos anos 40, esquecendo as ilhas.
A poesia era outra das suas paixões, que recitava entre a família e os amigos, com frequência. Guerra Junqueiro era um dos seus favoritos.
A idade avançada com que faleceu, aos 99 anos, tornou-o numa das figuras mais respeitadas e conhecidas da Região.